"Que Tipos de Baleias Eles Querem Matar"

Gerar Parentesco, Gerar Vida Porosa

  • Ana Carolina Sampaio Coelho
Palavras-chave: Gary Snyder; Donna Haraway; companion species; Anthropocene

Resumo

O presente trabalho propõe uma análise do poema “Mãe Terra: suas baleias”, do poeta beat Gary Snyder, presente na obra “Turtle Island” (1974). No poema, Snyder profere uma crítica feroz aos governos que continuamente operam um profundo massacre da vida não humana no planeta, protegidos pelo silêncio conivente da sociedade civil.  Há décadas, em seus poemas, ensaios e no exercício como ativista ambiental, Snyder reafirma seu compromisso com o cuidado da natureza selvagem e o mundo natural. Investigaremos como as questões suscitadas pelo poema e o pensamento de Snyder podem ser lidas a partir das discussões propostas por Donna Haraway no livro Staying with the trouble (2016) e de suas proposições como “gerar parentesco” com “espécies companheiras” e ainda a ideia de “viver e morrer bem”. Assim como Snyder, Haraway possui as questões climáticas urgentes do nosso tempo como um dos eixos centrais de seu trabalho e, numa conversa afinada com o trabalho do poeta, também propõe questões como: “o que é o não-humano que importa”? E ainda: como inventar outras potências de viver? Discutimos como a ideia de uma “vida porosa”, apresentada por Snyder, dialoga com as proposições de Haraway de “devir-com” as vidas humanas e não humanas, resistindo sempre à tentação de resolver conflitos ou o estabelecimento de verdades, mas criando condições para que as diferenças possam coexistir, ampliando a multiplicidade e heterogeneidade do mundo. Ampliamos essa discussão num diálogo com o pensamento de Fernand Deligny, Deleuze e Gatarri e suas proposições com as imagens de rizomas e a vida em comunidade. Este trabalho investiga como esses autores propõem modos de viver junto com “respons-habilidade”, numa ética do cuidado com a vida humana e não humana.  

Referências

DELEUZE, G & GUATTARI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed. 34, 2000.

DELIGNY, F. O aracniano e outros textos. São Paulo: n-1 edições, 2015.

HARAWAY, Donna. O manifesto das espécies companheiras: cachorros, pessoas e alteridade significativa. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2021.

SNYDER, G. Re-habitar – Ensaios e poemas. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2005.

_________¬. Turtle Island. Nova Iorque: New Directions, 1974.

TSING, A. Margens Indomáveis: cogumelos como espécies companheiras. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 17, n. 1, p. 177-201. ISSN 2175-8034. 2015. Recuperado em 20 set 2010, de: .
Publicado
2022-01-15