Da Literatura Simbólico-Imagética à Extinção dos Botos na Amazônia

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  • Antonio Carlos Batista
  • Ana Paula Resende
  • Rosane Almeida
Palavras-chave: literatura amazônica, lenda do boto, extinção do boto, ecolinguística

Resumo

A literatura amazônica foi construída dentro de um espaço mítico. Do olhar dos conquistadores e dos naturalistas emergiu um universo fantasioso. Sobre o geográfico-cultural sobressaíram os devaneios que construíram as primeiras figuras básicas de um imaginário idílico: as Amazonas, o Eldorado e o Maligno. Construídos e reconstruídos na força da oralidade, a cultura amazônica desde a chegada dos primeiros navegantes apresentou uma discursividade delirante sobre a água e a floresta. Nessa simbiose de inferno e paraíso emergiram as lendas contadas de geração a geração como a lenda do boto, com o poder de se metamorfosear, seduzir e engravidar as jovens. Mas esse universo de encantamento choca-se cada vez mais com a modernização. O imaginário se fragmenta. Esse choque com a modernidade introjeta na Amazônia outra visão de mundo ao considerar o poder do pajé, a panema, os contos e lendas como superstições que devem ser descartadas na busca do conhecimento verdadeiro. Essa ruptura com o presente está diretamente relacionada com o avanço do protestantismo à visão de mundo católica fragilizando e tencionando esse tradicional modo de vida. Além de afirmar que um conjunto de crenças relacionadas ao ambiente encantado está sendo perdido na conversão, objetiva-se compreender o mais recente comportamento territorial na Amazônia, caracterizado pela matança de botos utilizados como iscas para a pesca de espécies de peixe liso como a piracatinga. Estudos demonstram que a população de botos na região caiu pela metade nos últimos dez anos devido à caça predatória. A metodologia para a construção desse artigo fez uma análise bibliográfica das obras clássicas e contemporâneas que registraram o simbolismo e a tradição oral do universo amazônico. Posteriormente a partir de uma análise documental, de forma qualitativa e quantitativa, comparar as múltiplas realidades que estão entrando em conflito no interior da floresta. Modos de vidas e visões divergentes que podem estar contribuindo para o extermínio dos botos.

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Publicado
2019-11-05
Seção
Dossiê temático